Aquela paixão em cada esquina

Numa tarde nublada de quinta feira… Ele apareceu.
1.78, cabelo grande e apressado, corria que nem uma lebre frenética pra não perder sua última aula de cálculo antes da prova.  Ele era tão atrapalhado que às vezes até o nome esquecia. Carlos, Daniel, Frederico… Até hoje não me lembro do nome dele, mas adorava o observar (e rir) de longe, pois nunca havia criado coragem para me aproximar dele.
Nos dias frios, ele usava um casaco de camurça verde, extremamente brega, mas quem poderia ligar? Nele a breguisse até ficara um charme.

Até que em um dia, como sempre, ele estava tão apressado que deixou os livros caírem num chão cheio de lama, e quando estava tentando se livrar de todo aquele barro marrom, seus óculos caíram e ali o vi extremamente puto. Soltou em alto e bom som, meu palavrão predileto: – “Puta que pariu.”
Não me aguentei sentada em meu banquinho e fui obrigada a ajuda-lo.
– “Calma, calma, que eu te ajudo.” Disse e me abaixei, peguei uns lenços umedecidos para ajuda-lo a limpar seus cadernos.
Enquanto lhe ajudava, discretamente, levantei a cabeça e olhei rapidamente em seus olhos e percebi que seus olhos na verdade eram verdes, eles ficavam tão escondidos atrás daquele seu óculos quadrado fundo de garrafa, que eu não havia percebido ainda. Assim que acabamos de limpar os livros, ele me agradeceu com toda sua gratidão e disse: “Foi um prazer te co-conhecer.”
Ele era gago e eu sorri ao escutar aquela saudação. Respondi com um simples “por nada” e quando tentei dizer algo a mais, ele já tinha ido embora.
Uma amiga me contou que ele havia vindo de Minas e achava que por essa razão ele não se enturmava com ninguém, segundo ela, ele sentia falta de sua terra, mas ela achou tudo isso baboseira. Ele só precisava de um amigo.

Fiquei um tempo sem vê-lo e por todos os dias, quando passava ao lado da poça de lama, em que havia o conhecido, me lembrava dele e me perguntava por onde aquele menino de olhos verdes andaria, será que ele havia voltado para Minas? Será que ele largou os estudos? Tudo que eu realmente queria era rever aquele menino estabanado…

Logo meu semestre acabara e eu não havia o visto novamente, pensava naqueles cabelos longos por todos os dias após aquele episódio com todo o pensamento positivo do mundo almejando revê-lo e, infelizmente, não obtive sucesso.
Aquele menino vivera em minha mente e todos os dias, ao passar naquele banco, lembrar-me-ei de toda aquela timidez, que apenas eu entenderia e permanecerá sempre em minha imaginação.

24 comentários sobre “Aquela paixão em cada esquina

  1. blogcrimesemcastigo disse:

    Deve ser incrivel dividir o palavrão preferido KKKKKK

    Eu adorei Raqs! Muito gostoso de ler! Gosto muito de histórias que começam e não terminam. Pode-se pensar que seja realmente ruim não poder revê-lo.. Mas isso torna tudo aquilo eterno sem chances do tempo poder estragar ~~

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  2. Raqs Marins disse:

    Hahahahahaha… É sempre bom dividir tudo, ainda mais com quem a gente gosta. Obrigadaaaaa, Maurício! Fico muito feliz, de verdade ❤
    Dá uma vontade de saber como acaba, né?! O bom é que não precisamos pensar no fim e a vida é muito assim, também. Chega a ser algo filosófico! Nunca sabemos como tudo isso irá terminar e vivemos assim…
    E o bom é que pra sempre vai ficar no coração de quem viveu tudo isso. *suspiros*

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